Palavras




Quero reconhecer que o maior poder está naqueles que conhecem, que nos escrevem, que nos mostram. Não descuido nunca os que escrevem pela vida mas esses, podem ou não estar em nós quando falta a forma perfeita de escrever, podem fazer das palavras um jogo.
A minha escolha está inerente a quem me conhece, a quem realmente me lê, a quem me escreve e a quem me tira o sono só porque me demonstra que nem tudo é assim porque eu quero que o seja.
Não escolhe apenas palavras, não escolhe textos, escolhe as minhas palavras, os meus textos, escolhe a mim para magoar ou fazer feliz, escolhe querer-me.
Directo, sente porque sente, vê porque sim, dúvida, tem certezas.
Como posso não escolher o que me remete para o que faz sentir, para palavras sem sentido que não deixam a razão ser própria e pelo seu nome. Defende com todas as pequeninas sílabas que tentam dizer o indizível que sim, que só quem sabe do que escreve, do que fala e do que sente é que pode atingir o meu máximo numa corrida contra as explicações que não sabemos mesmo assim se são para ser encontradas.
São as palavras, na sua forma mais pura que têm o caminho para mostrar o que a própria razão tenta combater e são ainda as palavras que vão contra o que é mais inato em nós, o que sentimos, o que queremos quando nada é assim tão pensado.
Quando escrevem sobre o que sentimos há um estranhamento, há uma desconfiança aliada ao prazer de saber que até se podiam guardar aquelas frases no mais intimo da nossa pura existência, exactamente como por vezes guardamos os sentimentos, como guardamos o que podíamos ter feito e no final não o fizemos… porque não.
Será o cansaço de sentir tantas vezes num só dia tantas (palavras!), elas cansam, fazem sentir a dor, materializam-na e magoam porque existem e não deixam esquecer o que fazem. Sento-me com uma folha de papel e sei que tudo à volta desaparece, fico só com a sensação perfeita de querer dizer-me aos ouvidos que tudo é assim, que escrevo para não falar e isto cansa, faz querer ir para outro lado e esquecer as palavras.
Escrever acalma, fez respirar, tudo encaixa.
Será “representar por meio de caracteres gráficos”, imaginar, representar, fazer acontecer. Preso nas palavras por um qualquer momento. Sente, não a mim mas o que digo, não o que mostro mas o que escrevo, não o que quero mas o que sou.
Dizer, falar, sentir, mostrar… querer mais, superar e nunca conseguir, a forma ultima de perfeição, o quase perfeito de um dia que sinto. Desaparece e volta atrás, mostra e esconde. Perceber que nunca vai ser possível, que palavras são só tentativas eternas, vazias de tanto.
Há Escrever e escrever. Escrever o que sou e escrever porque sou. Escrever porque sinto alguém. escrever para reescrever e Escrever sem voltar atrás.
Palavras são tuas, são minhas e eu digo-as ao som do que me preenche, ao som do que entristece, à luz da minha noite sem querer que as interpretes como de facto as escrevo. Procuro sempre a perfeita repetição do que sou, de como me conheço e reconheço.

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