(Não) Quero ser Grande

“As crianças têm uma forma idêntica à nossa, e um tamanho menor. Falam uma linguagem, em tudo semelhante à que falamos, embora, por vezes, tenham danças rituais, em que agitam os braços e, algumas batam muito os pés.
A curiosidade com que vencem o medo, a alegria e o jubilo, a capacidade de brincar, a ousadia de imaginar, a confiança e o amor, e a esperança.”
Eduardo Sá


Menino com coração:
Somos sempre inexperientes quando não sabemos se queremos que nos roubem as palavras ou que nos fiquem com a memória mas ninguém se apaixona com maturidade, há lugar para o deslumbramento, para os desvarios, para as loucuras não pensadas. Para o desassossego. Para o desentendimento. Para o encantamento. Infinitas possibilidades para tomar a decisão errada, e saber que é inevitável… um dia.
Não há seguro de alma, não há perfeição de sentimentos, não posso dar certezas mas deixa-me chegar mais perto. Mesmo sem promessas porque não há teorias do mundo.

Deixa ir, fecha os olhos. Ri. Pensa. Dá e tira. Escreve, apaga e volta a escrever. Vai. Vem. Fica. Chora. Berra.

Até Já

A saudade destrói a tristeza, é uma saudade diferente, uma saudade sem desengano. Mas dá um nó na cabeça, faz perguntar tantas vezes porquê. È uma saudade eterna de não termos aqui, nem agora nem mais. Dentro dos braços, dentro dos sorrisos, das memórias e de tudo que criamos.
Mesmo pela distância do tempo continuas com os dias, as horas e tudo o que passou, tudo o que ainda vai ficar aqui… e guardas dentro de ti.
Sabes que o amor rouba corações, faz chorar, faz não querer mais mas voltar a querer outra vez mas é a amizade que encanta, que ajuda a levantar, que faz perceber nos outros o que nós somos.
Acabamos por perceber que não pode ser eterno, que chegamos e já não queremos lá ficar porque a vida, meu querido, corre mais depressa que tu. Só queremos que o tempo passe, que acalme todo o gigante que se instalou cá dentro, queremos voltar atrás uns minutos e não deixar fugir a pessoa que foi sempre nossa. Porquê?
Ninguém mata a saudade de quem já tivemos connosco, mesmo que os dias passem, mesmo que as noites não existam, pode tornar-se mais calmo num recanto qualquer do que sentimos mas não passa, simplesmente porque não apetece esquecer o que de melhor vimos em nós.
Depois perguntamos se realmente merecemos todas as conversas, todos os conselhos, todos os mal entendidos, toda a companhia que não reconhecemos em mais ninguém. Porque o nome da amizade é maior do que o que as palavras podem escrever.
Aprendemos a apaziguar a dor a pensar no que foi, mas volta a magoar porque já não vai poder mais ser!
Não podes nunca ser dono da tua vontade e por vezes a fúria vai ser maior do que tudo, a raiva de não teres quem mais querias, a raiva de já teres tido e de não teres dito só mais uma vez obrigado. Vais fingir sempre que tudo está bem, vais sempre dizer que é isso a verdade da vida, vais de vez em quando deixar que te ajudem mas voltas a esconder-te e a perceber-te sozinho. Vais perceber que ignorar sentimentos não é a formula para que desapareçam, sabe bem quando se tornam a luz de presença que tanto acalma o espírito quando temos a certeza que há monstros debaixo da cama. Mas agora não, já não podemos encontrar no meio da cama dos nossos pais um refúgio inabalável, capaz de fazer superar tudo, de deixar a noite passar tão rápido.
Vais sempre perguntar porque é que há tempo para perder. E vais sempre ter medo de não ter tempo. Mas não decidas se é bom, se é mau. Apenas é. O teu tempo sem muito tempo.
Quando lembrares vão brilhar os olhos, cor de diamante, cor de saudade, cor de querer outra vez. Fica assim sempre, deixa o cantinho especial.
Pretensão? Talvez de mais

Razão?


Este impulso de sentir, de tentar ver o que não percebo! Deliciosas noites que passam sem que um fôlego saia a mais. Apaixonada, amor, repita-se paixão hoje e sempre.
Porquê esta sensação de não querer sentir nem um minuto a menos, esta horrível atracção que me prende enquanto me tenta soltar. Vejo tantas vezes a mesma coisa, sinto tantas vezes o que não quero.
Tenho o direito de me explicar, de tentar dizer-me o que não consigo dizer a ti de te querer ter perto. Dói, confunde e deixa-me não querer ficar assim. Fica uma saudade que não consigo controlar, que não se explica, que não se vê.
Não te quero tão perto só porque estás aí, longe do meu mundo, longe do que quero dizer, longe do que preciso (de ti). Como é grande a nossa distância.
Vontade de te ver, de te ter… saber que não posso.
Cansa isto, cansa sentir mais do que posso.
Quero ver o olhar que escolhemos, sentir sempre.
Falas com os olhos, com as mãos e delicia-me a forma como paras a meio das tuas palavras… como se tentasses descobrir um significado real para o que está a acontecer. Agrada-me o teu sorriso e sim, os teus beijos, sentir que o coração parou, sentir tudo em mim, sentir que o tempo não passa, querer ficar ali. Olhar e voltar a olhar só mais uma vez. Chegar à cama e não querer estar ali e sim, acordar no dia seguinte com o sorriso.
Tenho saudades por não saber quando.
Será que sim, que de facto o olhar fala mais do que todas as palavras?
Queria prender-te e voltar a perder-te e encontrar-te assim, no meio de um dia qualquer.
Procuro como tu o repercutido som do mar, o amor tranquilo, a voz exacta da alma. Andamos sobre o silêncio, sempre com os olhos a dizer o que parece tão proibido e acabamos na armadilha de pensar secretamente no constrangimento de alguma vez a intensidade do que sentimos nos possa fugir.
Diz-me se há a tal razão do amor.

Elogio

"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem,tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode.Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária.A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém.Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder.Não se pode resistir.A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Miguel Esteves Cardoso

Cálculo da Felicidade


Vejo-me por vezes nos outros, depois confundem-me e ainda me mostram que afinal nada está assim tão certo.

Vive-se com a urgência descontrolada de estar(e não ser) feliz, de poder lembrar um qualquer momento como o mais decisivo, de querer que o tempo passe ou ainda que pare quando está a ser bom demais e nem nessa realidade estamos a conseguir viver.

Temos a urgência das paixões, das flores, dos confrontos, das conversas e dos olhares. Podíamos até roubar de uma só vez o que pode (poderia) acontecer numa vida.

Somos cobardes por não saber esperar principescamente, por não saber voltar atrás, por querermos mais ainda do que gestos que não compreendemos, por não sabermos onde erramos e o que isso pode fazer.

Construção de muros com falsas realidades, com a certeza ultima de que fazemos necessariamente o que é esperado.

Crescemos com a ansiedade descontrolada de não desapontar os outros, a nós mesmos e de calcular a felicidade: medi-la em unidades de prazer, ordenadas por intensidade, duração e proximidade, ainda que o valor de algumas possa ser diminuído. Desejo e ansiedade divididos pelo desiquilibrio. O desejo da pessoa excelente que relacionamos connosco.

Ser racional sem saber exactamente o que isso significa, é disto que se trata.

Realmente assusta-me


Queria não pensar tanto sobre tanta coisa, ficar no cantinho das coisas maravilhosas onde os reis e as rainhas, as princesas e os sapos são quem manda na ordem de todas as coisas. No mundo da Pequena Sereia, do Rei Leão, transportar-me para o que as crianças veêm. Ser ingénua (um bocadinho mais) e não pensar, não pensar durante todo o tempo que eu quero.
Assusta-me errar, assustam-me as certezas. Apavoram-me as indecisões. Como posso saber?
Fico ou vou?

"Genesis"

São sempre assim, desprovidos de razão, com fantasia, vontade de ver, vontade de ser. Irrepreensíveis porque sim, sem razão, porque não.
Irrita-me(provavelmente de mais nesta minha maneira quase leiga de pensar) a falta de carinho de quem sente, toda a conquista que se arrasta indefinidamente, só por ser pensado de mais.



"Where does it come fromthis quest, this need to solve life's mysteries when the simplest of questions can never be answered? Why are we here? What is the soul? Why do we dream? Perhaps we'd be better off not looking at all. Not delving, not yearning. But that's not human nature. Not the human heart. That is not why we are here."

"Depois de algum tempo aprendes a diferença, a subtil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma. E aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começas a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. Acabas por aceitar as derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprendes a construir todas as tuas estradas de hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em vão. Depois de algum tempo aprendes que o sol queima se te expuseres a ele por muito tempo. Aprendes que não importa o quanto tu te importas, simplesmente porque algumas pessoas não se importam... E aceitas que apesar da bondade que reside numa pessoa, ela poderá ferir-te de vez em quando e precisas perdoá-la por isso.Aprendes que falar pode aliviar dores emocionais. Descobres que se leva anos para se construir a confiança e apenas segundos para destruí-la, e que poderás fazer coisas das quais te arrependerás para o resto da vida. Aprendes que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que tens na vida, mas quem tens na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprendes que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebes que o teu melhor amigo e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobres que as pessoas com quem tu mais te importas são tiradas da tua vida muito depressa, por isso devemos sempre despedir-nos das pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprendes que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somosresponsáveis por nós mesmos. Começas a aprender que não te deves comparar com os outros, mas com o melhor que podes ser. Descobres que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que se quer ser, e que o tempo é curto. Aprendes que, ou controlas os teus actos ou eles te controlarão e que ser flexível nem sempre significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, existem sempre os dois lados.Aprendes que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer enfrentando as consequências. Aprendes que paciência requer muita prática. Descobres que algumas vezes a pessoa que esperas que te empurre, quando cais, é uma das poucas que te ajuda a levantar.Aprendes que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que tiveste e o que aprendeste com elas do que com quantos aniversários já comemoraste. Aprendes que há mais dos teus pais em ti do que supunhas. Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são disparates, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobres que só porque alguém não te ama da forma que desejas, não significa que esse alguém não te ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo.Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, poderás ser em algum momento condenado. Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que tu o consertes. Aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás.Portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma, ao invés de esperares que alguém te traga flores. E aprendes que realmente podes suportar mais...que és realmente forte, e que podes ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que tu tens valor diante da vida!"

William Shakespeare
Deixa-me ser.
É bom, é grande, preenche… tira e dá. Como me fazes isto? Como me deixas sentir-me pequena do teu lado, querer-te mais do que ontem e sempre com a força de hoje?
Procuro-te, procuro-nos e vejo-te hoje mais do que nunca. Sobreponho o que sinto ao que preciso fugir de ti.
O que sonho quando te olho, quando te penso, quando nada mais me deixa estar assim… quando estás em mim, quando estou em ti.
Não podes nunca imaginar o que digo, perder-me em ti? “Dói. Sem ficar magoado”

Apanhas-me sempre, por muito longe, por muito perto, por muito difícil. Tudo em ti és tu, e não sei onde fico.


Deixa-me falar-te de momentos, de quando a noite me deixa pensar, quando deixa que toda a sua escuridão tome conta do que pensava ter tão dentro daquilo que não mostro a ninguém. Sussurras-me sentimentos, pensamentos que me acordam, que me agitam, que me fazem querer mais, que me deixam sem ver… sem querer saber!
Inocência, pureza e eu quero que te deites em mim, com a certeza que sempre te compreendo, que te desiludo, que te faço sorrir, que te quero, que preciso, que nos vejo sempre no meu pequeno mundo.

Tens nessa tua eternidade a ingenuidade do amor puro, de acreditar que o que não se explica é maravilhoso, de acreditar que somos nós porque sim, simplesmente porque sim. Porque é químico, porque é natural mas sabes, confunde, tira o sono e tem demasiadas perguntas. Faz pôr as mãos na cabeça e não querer saber o que vem a seguir
És irresistível, roubam-te o sorriso e voltas a encontrá-lo, dás-me o meu quando não tenho a certeza se já desapareceu. Somos raros, nunca tive tanto com tão pouco, como se o mundo coubesse, de facto, nas nossas mãos. Temos vontade de nós, vontade de segundos que desaparecem.

Tenho vontade de ti. Tenho vontade nossa.

Que palavras são estas?, escrevo na mais maravilhosa calma como se a minha respiração dependesse disto, como se soubesse que vais ler e ficar entregue ao que te pertence, ao que não tem fim, ao que a manhã te mostra como sendo um dia que nunca se apaga. Estou melhor quando estás à minha volta, segredos que ninguém vai encontrar. Não somos nunca um só que se perde nas inevitabilidades da vida, somos dois, o mais perfeito conjunto de uma sintonia tão estranha para quem não conhece os nossos (des)encontros, para quem não conhece a língua que falamos, as vozes que ouvimos que são tão nossas, para quem não conhece o meu sorriso escondido atrás de um ecran e as minhas lágrimas quando não quero ver que me reconheces, que sabes e que me atiras para o esforço de uma vida tão mostrada por ti sem que a enfrentes como me obrigas a fazê-lo. Não me pertences, não quero ter-te. Quero ver-te, sentir-te, quero sempre esta simplicidade, esta magia que nos deixa ser o que quisermos. Quero que me tires a respiração, o sono, que me roubes sorrisos e me leves até nós, sempre que quisermos. Quero-te livre da obrigação, livre do que pode não ser o mais certo, livre de todos os momentos que não pedem nada a não ser desejo, cumplicidade e sorrisos.
Amizade de tudo o que ultrapassa limites, amor daquilo que não é normal, cumplicidade só porque sim.

Crescemos, vivemos e mesmo assim conheço-te em mim como se nunca tivesses saído daqui com a pressa de um desprendido.

Vou sempre ter-te aqui, abraçado, aninhado.

Palavras




Quero reconhecer que o maior poder está naqueles que conhecem, que nos escrevem, que nos mostram. Não descuido nunca os que escrevem pela vida mas esses, podem ou não estar em nós quando falta a forma perfeita de escrever, podem fazer das palavras um jogo.
A minha escolha está inerente a quem me conhece, a quem realmente me lê, a quem me escreve e a quem me tira o sono só porque me demonstra que nem tudo é assim porque eu quero que o seja.
Não escolhe apenas palavras, não escolhe textos, escolhe as minhas palavras, os meus textos, escolhe a mim para magoar ou fazer feliz, escolhe querer-me.
Directo, sente porque sente, vê porque sim, dúvida, tem certezas.
Como posso não escolher o que me remete para o que faz sentir, para palavras sem sentido que não deixam a razão ser própria e pelo seu nome. Defende com todas as pequeninas sílabas que tentam dizer o indizível que sim, que só quem sabe do que escreve, do que fala e do que sente é que pode atingir o meu máximo numa corrida contra as explicações que não sabemos mesmo assim se são para ser encontradas.
São as palavras, na sua forma mais pura que têm o caminho para mostrar o que a própria razão tenta combater e são ainda as palavras que vão contra o que é mais inato em nós, o que sentimos, o que queremos quando nada é assim tão pensado.
Quando escrevem sobre o que sentimos há um estranhamento, há uma desconfiança aliada ao prazer de saber que até se podiam guardar aquelas frases no mais intimo da nossa pura existência, exactamente como por vezes guardamos os sentimentos, como guardamos o que podíamos ter feito e no final não o fizemos… porque não.
Será o cansaço de sentir tantas vezes num só dia tantas (palavras!), elas cansam, fazem sentir a dor, materializam-na e magoam porque existem e não deixam esquecer o que fazem. Sento-me com uma folha de papel e sei que tudo à volta desaparece, fico só com a sensação perfeita de querer dizer-me aos ouvidos que tudo é assim, que escrevo para não falar e isto cansa, faz querer ir para outro lado e esquecer as palavras.
Escrever acalma, fez respirar, tudo encaixa.
Será “representar por meio de caracteres gráficos”, imaginar, representar, fazer acontecer. Preso nas palavras por um qualquer momento. Sente, não a mim mas o que digo, não o que mostro mas o que escrevo, não o que quero mas o que sou.
Dizer, falar, sentir, mostrar… querer mais, superar e nunca conseguir, a forma ultima de perfeição, o quase perfeito de um dia que sinto. Desaparece e volta atrás, mostra e esconde. Perceber que nunca vai ser possível, que palavras são só tentativas eternas, vazias de tanto.
Há Escrever e escrever. Escrever o que sou e escrever porque sou. Escrever porque sinto alguém. escrever para reescrever e Escrever sem voltar atrás.
Palavras são tuas, são minhas e eu digo-as ao som do que me preenche, ao som do que entristece, à luz da minha noite sem querer que as interpretes como de facto as escrevo. Procuro sempre a perfeita repetição do que sou, de como me conheço e reconheço.

Porque não!

Uma noite para ficar confusa, para me opor ao que penso de ti para não perder a cabeça. Lembras-me o quanto não quero ficar a ver tudo passar.
Hoje quis passear pela praia, ter daqueles pensamentos que fazem bem só porque são sinceros, andar descalça e seguir em frente com a sensação fria nos pés a mostrar que sim, que sentimos.
Quando nos penso invade-me esta sensação de insegurança segura, de não saber como chegamos aqui, de não perceber como um nada de duas vidas tão desencontradas se pode transformar em tanto. Adoro que me leias, adoro que me vejas, que me compreendas, que me surpreendas.
Não sei como isto pode não ser só o delírio de dois que identificam, têm desejo, têm carinho, têm saudades.
Não gosto da maneira como me preenches, não gosto da maneira como me fazes pensar em ti, não gosto da forma carinhosa como me falas… porque me dá aquele sentimento incontrolado que quero controlar, porque me faz não pensar, porque me dá frio na barriga, porque me deixa com aquela ansiedade incontrolada de te ter.
Não quero reconhecer-te sem te ver, não quero pensar sem saber como, não quero porque magoa viver um mundo de incertezas, porque magoa não saber reagir. Não magoa agora, magoa amanhã.
Percebes-me? Talvez não, não te posso pedir aquilo que nem eu tenho, não posso pedir que me respondas ao que não sei perguntar. Está a tornar-se maravilhosamente irritante escrever-te, um hábito que me envolve que me faz sentir compreendida, que me faz deixar estar.
O que sentes quando não te vês? O que sentes quando dormes, quando te olhas ao espelho, quando percebes que tudo ou nada tem sentido? Quando não tens a oportunidade de ti? Quando não tens a oportunidade de nós?
Não quero controlar esta sensação tão incrível, não quero dizer não ás incertezas que tenho, não quero perder a magia. Não quero perder-nos… Quero conhecer-te à minha maneira, quero saber ler-te, saber o que dizes, porque sim e porque não. Ao teu lado falta controle, falte-me saber porque faço isto, porque penso em ti, porque imagino “nós”…
Não quero sair de ti, deixa-me ficar.

Desenho

Parece que foste desenhado por mim, como todos aqueles traços que nunca pensei serem possíveis de existir.
És desprendido, vejo-te sem seres tu. Entras assim, Homem Misterioso, feito de não sei o quê e á procura de todas aquelas coisas que me envolvem, me apaixonam.
Nunca fugi de qualquer momento, nunca senti nada que fosse tanto, nunca te olhei sem ser como hoje.
Tudo isto são coisas, coisas que não posso amar, palavras que não me podem deixar sentir porque significam cada vez mais.
Há qualquer coisa de profundamente irresistível em ti, nunca deixaste de ter esse ar de menino que joga futebol, que rouba beijos desprevenidos, que me rouba olhares, que não tem as marcas do tempo, que tem o sorriso escondido com um caminho tão fácil de eu compreender.
Falas-me como se fosse sempre a primeira vez, uma espécie de mistério com todos os teus segredos guardados debaixo de um sitio só teu e que nunca ninguém vai ser capaz de encontrar. Perguntas sempre quem és tu? Talvez eu mesma nunca consiga explicar.
Não quero estar contigo pela vida, quero ter sim contigo um fio invisível que só eu compreendo, como se me fizesse lembrar de ti para sempre, da maneira que eu quero, sem que nenhuma das situações da nossa vida possa interferir.
Vês, sempre que te deitas aquilo que és, esperas que alguém, deitada a teu lado posso chegar algum dia a ver isso contigo. Não queres que chegue muito cedo para não fugires nem muito tarde para já não te compreender.
Tenho de te pôr numa moldura, guardada dentro de mim, deixar ficar no silêncio aquilo que sinto.
Apaixonas-me e vou-te dize-lo no dia em que te vires como eu a ti.
(...)Quando se é feliz muito novo, a única obsessão que se tem éaguentar a coisa. Vive-se ansiosamente com a desconfiança, quase certeza da coisa piorar. O pior é que as pessoas que se habituaram a serem felizes não sabem sofrer. Sofrem o triplo de quem já sofreu.É injusto mas é assim. No amor é igual. Vive-se à espera dele e, quando finalmente se alcança, vive-se com medo de perdê-lo. E depois de perdê-lo, já não há mais nada para esperar. Continuar é como morrer. As pessoas haviam de encontrar o grande amor das suas vidas só quando fossem velhas. É sempre melhor viver antes da felicidade do que depois dela.

Miguel Esteves Cardoso